domingo, 1 de maio de 2011

Um pouco de história: A culpabilização das mulheres pela infertilidade do casal

No passado, a infertilidade era vista como um problema único e exclusivo da mulher, nunca sendo sequer posta a possibilidade de a causa da infertilidade poder advir do homem. A culpa era indubitavelmente da mulher. No entanto, com o avançar do tempo, os estudos desenvolvidos deixaram a descoberto uma realidade bastante diferente, em que num casal, tanto a mulher como o homem têm a mesma probabilidade de serem inférteis.
Porém, quando esta doença afecta o homem, este vê a sua virilidade posta em causa, tendo medo de ser menosprezado e criticado pela sociedade. Para se proteger desta agressão psicológica, em muitos casais ao longo da história da Humanidade, o homem transpôs a responsabilidade para a mulher, acusando-a, perante todos, de ser a culpada pela infertilidade do casal.
Muitos exemplos verídicos aconteceram ao longo da história, como é exemplo o rei D. Henrique VIII, de Inglaterra, que viveu no século XVI. Este teve seis mulheres e todos os seus descendentes que conseguiam sobreviver até a idade avançada eram raparigas. Os rapazes, ou eram nados-mortos, ou morriam pouco tempo após a nascença. Tais factos fizeram com que se criasse uma nova religião, anglicana, que lhe permitiria o divórcio e depois deste o casamento, tendo-se casado mais cinco vezes, com o objectivo de obter um filho varão. Todavia, pouco tempo depois de ter, finalmente, conseguido um herdeiro masculino, o rei morre, falecendo seguidamente o seu único filho varão. Nunca ninguém pôs em causa a fertilidade do rei D. Henrique VIII, nem mesmo ele, que após cada fracasso na obtenção de descendência masculina, matava a sua mulher, tendo morto quatro das suas cinco esposas.
Actualmente este caso seria facilmente estudado e avaliado como infertilidade de causa masculina, devido à existência de anomalias relacionadas com os cromossomas sexuais, nomeadamente o masculino.
Outro caso real, mas este ocorrido em Portugal, foi o de D. João V. Este não conseguia obter descendência e claro está que a culpada era a sua mulher, a D. Maria Ana. Segundo o Memorial do Convento: “Que caiba a culpa ao rei, nem pensar (…) porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso repudiadas tantas vezes…”. Esta frase retrata a mentalidade que sempre existiu e que, infelizmente, ainda existe de que as mulheres têm a culpa de o casal não conseguir obter filhos.
Com estes exemplos, deve retirar-se a ideia de que se é necessária uma mudança de mentalidades de toda a sociedade. A infertilidade não significa menor virilidade, menos viril é o homem que não assume os seus problemas!
Imagem retirada de http://padumoca.blogspot.com/2010/06/henrique-viii.html

Fontes:
MARUJO, Helena Águeda – A Dor Secreta da Infertilidade – história de uma mulher que não pode ter filhos. Lisboa : Editorial Presença, 2004
SARAMAGO, José - Memorial do Convento : Caminho

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