domingo, 24 de abril de 2011

A dor dos homens

Sendo a mulher o membro do casal que participa mais activamente nos ciclos de tratamentos, dado que grande parte das etapas a envolvem, é natural que a vertente emocional masculina tenda a ser desvalorizada, mesmo por aqueles que olham com atenção este problema.
Para além disso, os homens, de um modo geral, não exteriorizam tanto os seus sentimentos como as mulheres. No entanto, a ausência de conversas sobre o problema e o decorrer de um tratamento não significa de todo que o homem não se interessa pelo passo que estão a dar na sua luta por um filho. Simplesmente, os homens tendem a sofrer em silêncio.
A infertilidade tem várias implicações na concepção que um homem tem de si próprio, mas, principalmente, na forma como a sociedade o encara enquanto “homem”.
Para uma mulher, ser infértil é um grande desgosto e pode ser uma frustração terrível; mas, para os homens, é pura e simplesmente uma vergonha imperdoável.
In A Dor Secreta da infertilidade
Apesar de nos encontrarmos no séc. XXI, a infertilidade masculina ainda é associada a falhas na sua virilidade. Para a sociedade, um homem infértil é impotente. Desde modo, muitos não assumem o seu problema, com receio de que a sua masculinidade seja posta em causa.
Ao contrário das mulheres inférteis, os homens não vêem nos outros com o mesmo problema alguém que pode realmente compreender a sua dor. Tendem, antes, a guardar toda a dor, humilhação e vergonha que sentem para si próprios.
Apesar de silenciosa, a dor dos homens inférteis é real.
Imagem retirada de http://www.corposaun.com/page/61/

Fontes:
MARUJO, Helena Águeda – A Dor Secreta da Infertilidade – história de uma mulher que não pode ter filhos. Lisboa : Editorial Presença, 2004

domingo, 17 de abril de 2011

Os pequenos momentos de alegria

A jornada de um casal infértil é marcada por diversos sentimentos, muitas vezes opostos. Estes sentimentos podem ir desde a raiva, tristeza ou desespero pelo insucesso de um ciclo de tratamentos à alegria e esperança durante os 15 dias que separam a transferência embrionária do teste de gravidez. É precisamente neste período de alegria que nos queremos focar.
O tempo de espera pela confirmação da gravidez pode tornar-se num período de grande ansiedade para o casal.
Porém, apesar de toda a apreensão, estes são dias de felicidade para o casal, em particular para a mulher, precisamente porque se sente “grávida” tal como as outras mulheres que vê à sua volta. Sente-se uma mulher normal.
Como foram parte integrante nas principais etapas do tratamento, a esperança no sucesso da técnica de PMA ainda é maior para estas mulheres. A sensação de felicidade vai, assim, crescendo à medida que as diferentes etapas da técnica vão sendo completadas (amadurecimento dos óvulos, punção folicular, fecundação e desenvolvimento dos embriões em incubadoras e transferência embrionária).

E, nesses quinze dias, aí é que não há apelo nem agravo: estás MESMO grávida. O sonho da tua vida. Está dentro da tua barriga. Não pensas noutra coisa.
(...) O grande problema é que isto não costuma mesmo durar mais que quinze dias.
O que toda a gente quer esquecer sobre as FIVs é que a probabilidade de sucesso é de uma em seis.
in A Dor Secreta da infertilidade
Durante esta quinzena, todos os que rodeiam estes casais têm para com estes a empatia e atenção que não existe nos outros momentos da jornada destes. Todavia, nem sempre as técnicas de PMA são bem sucedidas e o teste de gravidez revela o insucesso do tratamento. Apesar de todos os esforços físicos, psicológicos e, muitas vezes, financeiros, a tão desejada gravidez não é alcançada. Toda a esperança e felicidade cimentadas ao longo do ciclo são destruídas, restando um grande vazio. Por vezes, as mulheres sentem-se culpadas pelo falhanço, o que ainda as desgasta mais emocionalmente.
Como se não bastasse, toda a simpatia social desaparece, sentindo os casais novamente que estão deslocados da sociedade.
Ainda assim, e tendo consciência de que o insucesso da técnica de PMA é uma hipótese bem real, a realização de um ciclo de tratamentos, em particular a última fase, é, frequentemente, um período de alegria e de esperança, não fosse esta a única forma de concretização do sonho de paternidade/maternidade de muitos casais inférteis.

Imagem retirada de http://www.dicasdamulher.com.br/gravidez/mulheres-inferteis-tratamento-para-engravidar
Fontes:
MARUJO, Helena Águeda – A Dor Secreta da Infertilidade – história de uma mulher que não pode ter filhos. Lisboa : Editorial Presença, 2004

domingo, 10 de abril de 2011

Infertilidade: a vertente emocional

Muitos são os casais que têm como projecto de vida comum a constituição de uma família. Para além disso, o desejo de procriar resulta de um profundo instinto de perpetuação da espécie humana. A concepção e consequente constituição de família são, por isso, vistas como algo natural pela sociedade. No entanto, a concepção pode ser difícil de alcançar devido a problemas de fertilidade. Ora, o adiamento do sonho destes casais por tempo indeterminado tem grandes repercussões, quer na vida do casal, quer na forma como este e cada um dos seus membros interage com o meio que os rodeia.

O mundo em volta destes casais parece ser um lugar fértil do qual foram excluídos, levando-os, mesmo, a afastar-se de eventos sociais onde possam encontrar mulheres grávidas ou crianças pequenas.1
A incapacidade de conceber pode, portanto, despoletar sentimentos de raiva, tristeza e desespero.
Infelizmente, a postura da sociedade face à realidade dos casais inférteis está longe de ser a melhor. Na verdade, a ignorância, a falta de conhecimento e o alheamento que revela em relação a este problema resultam na incompreensão social que leva estes casais a isolarem-se ainda mais. São excluídos, particularmente as mulheres, por não se encontrarem dentro dos padrões “normais” definidos pela sociedade.
Não obstante, a jornada destes casais pode ser também preenchida por momentos de esperança, graças aos tratamentos de infertilidade.
Os tratamentos de infertilidade, nomeadamente as técnicas de PMA, constituem as melhores hipóteses para o concretizar deste profundo desejo de constituir família. A Medicina da Reprodução é, por isso, mais do que uma simples prática médica, é a medicina do sonho.
Porém, a realização destes tratamentos nem sempre trás os resultados esperados, pelo menos não com a rapidez que estes casais desejariam. O percurso dos casais que efectuam estes tratamentos pode, por isso, assemelhar-se a uma montanha russa de emoções.

Imagem retirada de http:// http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/nosvencedores/?k=Elsa-Ferreira---Vencer-a-infertilidade.rtp&post=31303

1 in Compreender a Infertilidade
Fontes:
WARDLE, Peter; CAHILL, David - Compreender a Infertilidade. Porto : Porto Editora, 2010
MARUJO, Helena Águeda – A Dor Secreta da Infertilidade – história de uma mulher que não pode ter filhos. Lisboa : Editorial Presença, 2004

domingo, 3 de abril de 2011

A infertilidade e a religião

Ao longo dos tempos as três principais religiões, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, foram adoptando posturas diferentes face aos tratamentos de infertilidade e congelamento de gâmetas e embriões. Sendo a maioria dos casais seguidor de uma religião, o seguimento dos ideais e crenças defendidos pela religião que praticam, podem, muitas vezes, ser incompatíveis com a concretização do seu sonho enquanto pais, através do recurso de técnicas de PMA, criopreservação e doação de embriões e gâmetas. Seguidamente encontra-se um pequeno resumo referente às diferentes opiniões das três religiões principais, que representam 50% da população mundial.
Para o cristianismo a procriação tem em base laços afectivos profundos entre os progenitores, sempre de sexo diferente e unidos pelo casamento religioso. Esta é uma religião que segue os ideais enunciados na bíblia, pelo que, de um modo geral, a mentalidade dos seus seguidores é conservadora.
Já o judaísmo aceita a maior parte das técnicas de PMA, exceptuando a doação de gâmetas. Apesar deste liberalismo, quando praticados tratamentos de infertilidade, estes deverão seguir um ritual feito por um rabino, para que este processo seja religiosamente aceite. Para os Judeus, a procriação é uma importante fase na vida de um casal, no entanto, recusam tratamentos com doação por considerarem que estes são uma profanação.
A religião islâmica é considerada a mais liberal das três abordadas, uma vez que só recusa tratamentos com recurso a gâmetas doados por, tal como no judaísmo, serem considerados uma introdução de genes estranhos na árvore genealógica. No islamismo um embrião é, unicamente, considerado ser com vida, após 120 dias de desenvolvimento.


           Prática
Religião
Coito programado
Inseminação artificial
Doação de embriões/gâmetas
FIV
Congelamento de embriões/gâmetas
Cristianismo
Sim
Não
Não
Não
Não
Judaísmo
Sim
Sim
Não
Sim
Não
Islamismo
Sim
Sim
Não
Sim
Não

Todos estes pontos de vista, que em tudo diferentes, levaram a que estes tratamentos fossem regulamentados para que não existissem abusos nem crimes morais.
Fontes:
http://www.vidaconcebida.com.br/
http://www.vidaconcebida.com.br/catolicismo.html
http://www.vidaconcebida.com.br/islamismo.html
http://www.vidaconcebida.com.br/judaismo.html